Risos histéricos

Acordo querendo dormir
Como querendo vomitar

Escrevo querendo apagar

Deito querendo correr

Estudo querendo ser burra

Sou burra querendo estudar

Sou muda querendo dizer

Digo querendo calar

Trepo querendo um filme

Assisto um filme querendo trepar

Namoro querendo separar

Me separo querendo casar

Visto querendo a nudez

Fico nua querendo o casaco

Eu não quero nada no momento que quero tudo

Eu ando querendo não querer nada do que eu quero. 

Resposta a Manoel

“Tem gente que nasce poesia”

Sabe Manoel, eu não sei se nasci poesia

Mas eu nasci com ela

E renasço a cada letra de poesia

A letra que me antecede

Que me marca

Que me cura

A letra que me amargura

Que me mata e reencarna

Eu nasci carne

Mas me tornei palavra

Vou morrer Barros

Mas viver na letra

Entre-laçada

São nas noites que percebo tudo entre-laçado
Acaso é aquilo que por acaso não existe
Sonhos, lapsos, percalços todos meus e seus
Percebo a vida fluindo quando mais estancada estou
Nas palavras de meu corpo Sussurra, 
Urra feito percalços
De um corpo sem som que toca alto no peito
Grito de um útero até então ignorado fadado a sangrar
Grito de um cavidade usurpada,
sucateada pelo Outro que habita em mim
Grito de um peito acelerado que não aguenta mais ser abandonado
Rasgo esse seu contrato
Foda-se o que eu assinei
Faço outro de mim 
e mim do Outro.