quarta-feira, 8 de março de 2017

A menina do sol

Tomar café e apreciar o sol da manhã era um dos seus maiores passatempos. Era neste momento em que ela refletia sobre seus amores e suas dores ou simplesmente não pensava em nada. Foi em uma destas manhãs, que tal menina percebe-se nem tão menina assim. Percebeu que suas dores eram mais profundas e que apenas refleti-las já não fazia tanto efeito. Constatou que seus amores não mais bastavam por si próprios e que a troca era agora uma necessidade. 
Pensamento que fez com que demorasse um pouco mais para começar o dia. Chegou atrasada no trabalho, não conseguiu terminar os afazeres acadêmicos para entregar na aula e de noite embebedou-se com os amigos. No bar, tentou explicar seu sofrimento, pois alguns haviam percebido. Porém, muitos não prestaram atenção e apenas lhe empurraram mais álcool. Um destes amigos, que havia enchido o seu copo e que com tal comportamento tinha lhe despertado uma grande raiva, virou-se para ela e disse: “Parabéns você tornou-se adulta”. A menina ou a moça, ainda não sabia dizer, respondeu-lhe enfaticamente que ele estava errado. Como ela haveria de ser adulta quando começará a praticar tudo errado. Não fazia mais os que outros desejavam, seguia seus desejos e vontades, permitia-lhe ser infeliz para logo tornar-se feliz, não suportava mais algumas pessoas e seus dramas cotidianos e desejava vorazmente a presença real de alguns. Era agora um ser horrível! 
Como faria para voltar a ser aquela menina amável e que só sabia fazer o bem. Que fazia tudo que os outros mandavam e era sempre agradável. Que adorava mostrar seu sofrimento, pois as pessoas se sentiam melhores. Como faria para esconder sua felicidade, a felicidade em saber que a tristeza existe e que o seu mundo era ilusório. 
Tal pensamento passava pela cabeça e não a deixava seguir. As horas do dia corriam e freavam, os sentimentos eram mistos e complexos, o corpo já não lhe acompanhava, tinha se recusado a viver assim.
Tomando os problemas em suas mãos a menina decide entregá-los àqueles adultos que saberiam o que fazer e o que dizer. A maioria disse-lhe a mesma coisa, que a menina devia mudar, estava errada e devia tomar cuidado, pois, do contrário se perderia no caminho.
Mais angustiada e sentindo-se traída, a menina vê-se em uma enrascada. Tinha confiado nestas pessoas e agora que ela havia chegado onde queria, onde a felicidade era possível e não uma ideia, eles a mandavam mudar. Mudar o que? Os erros já haviam sido cometidos e tinham a feito assim. Não queria mudar, já havia mudado. Não era mais menina, era agora ela. Já conseguia pronunciar o eu e o sou.  SOU MULHER, palavras que saem de sua boca uma hora ou outra na manhã de sol, no anoitecer e até na mesa do bar.